G10vanni por Giovanni




"No último apito, eu comecei a chorar feito um condenado. Tinha sete anos na época, mas tenho certeza absoluta que muito marmanjo chorou o dobro. Há injustiças que nunca são reparadas - acredito eu que a maioria delas seja assim - e com essa não foi diferente; quinze anos depois, a tarde de 17 de dezembro de 1995 ainda está atravessada na garganta de qualquer santista. A história não preciso contar, muitos de nós viram, os que não presenciaram, leram, assistiram vídeos. Todo mundo já conhece.
Giovanni, enfim, parou. O próprio diz não entender por que foi idolatrado pela torcida, se não ganhou títulos; melhor jogador a passar pelo clube nos anos 90, resgatou o orgulho da torcida numa época desgraçada ao carregar o time daquele ano até as finais do campeonato; de todos os seus companheiros, apenas três ou quatro conseguiram relativo sucesso a nível nacional, o resto caindo em pouco tempo no esquecimento. Já tinha voltado ao Santos em 2005, ainda apresentando um futebol em ótimo nível, quando formou uma dupla genial com Robinho só para se ver roubado novamente. Outra vez, o resto é história; só o Messias conseguiu fazer com que um chutão pra lateral fosse lembrado pelos torcedores com orgulho. Depois da sua dispensa completamente descabida no final do ano, joguei a toalha quanto a uma terceira volta de verdade; acreditava que ele regressaria pra um amistoso sem-graça de despedida e só. Mas o destino, se não quis reparar as duas grandes injustiças que aconteceram com Giovanni, reservou-lhe ainda um último momento de glória.
A sua volta foi anunciada desde o começo somente como uma despedida, não pretendiam encaixá-lo no time titular ou nada disso. Apenas encerrar a sua história com a camisa que o consagrou. Jogou algumas partidas do Paulistão; logo na estréia, deu uma assistência para Ganso, seu sucessor. O abraço dos dois na comemoração foi uma das coisas mais fodas que já vi em jogos do Santos. Apesar de seu físico não permitir que atuasse os noventa minutos, usava a única camisa que lhe estava à altura: a 10.

Chegamos então ao domingo de carnaval de 2010; o Santos jogaria contra o Rio Claro, em um simples jogo de primeira fase de Paulistão, e, como nenhum dos três times paulistanos jogaria na capital naquele dia, optou por mandar no Pacaembu, palco da maior apresentação de G10 defendendo a nossa camisa. Assim como das outras vezes, ele começaria no banco. Em um jogo morno, os visitantes foram para o intervalo com 1-0 graças a uma falha boba de todo o conjunto da defesa alvinegra, o que forçou o treinador Dorival Júnior a se lançar todo pra frente na segunda etapa. Entraram, então, Madson e Giovanni.
Lá pelas tantas, faltando uns vinte minutos, o Messias iniciou a jogada do gol de empate, achando Neymar que achou André que achou as redes. 1-1. "A visão de jogo, o passe calculado, porra, isso não se esquece nunca", eu pensava. O Santos tinha ainda mais algum tempo pra tentar virar o jogo; então, simplesmente esqueceu defesa e partiu todo pro ataque. Várias e várias finalizações, tentativas, o diabo a quatro. Conseguimos cavar uma expulsão do outro lado. Mais pressão. Nada. O empate ia se perpetuando. Aos 44 minutos, eu já tava maldizendo aquela falha imbecil que originou o gol deles, xingando com meus botões.
Foi aí, faltando um minutinho só, que Neymar arrumou aquele desembolo na ponta esquerda, entrou na área e bateu cruzado. O goleiro conseguiu pegar, mas a bola ficou viva ainda. Giovanni estava dentro da pequena área pra esperar ela descer e cabecear pra rede pra virar o jogo, e correr pra torcida enlouquecida atrás do gol recebendo o abraço do time inteiro.
Aí, meu irmão, foda-se se era o Rio Claro em oitava rodada de campeonato paulista.
Aí, meu irmão, foda-se se a jogada foi toda do Neymar.
O que interessa é que o Giovanni marcou o gol da virada do Santos no último minuto. O Giovanni marcou o gol da virada do Santos no último minuto, caralho... e eu não preciso de mais nada nessa porra, comemorei igual a um maluco, assistindo sozinho o jogo no meu quarto por um streaming vagabundo, rezando pra aquela merda não travar. Igualzinho, igualzinho aos velhos tempos. Quase três meses depois desse dia, viríamos a ser campeões, dando o primeiro título ao ídolo. Se algum santista disser que não se emocionou na hora desse gol, na hora que viu quem fez, com todas as circunstâncias, com o jogo sendo no Pacaembu, e lotado... é mentira.
Porque no último apito, eu quase, por muito pouco mesmo, não chorei como há 15 anos atrás".

Por Giovani Bissoli  (Fã do Side Show Bob HAHAHA)
Santista de Barbacena - Minas Gerais

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